Mago Supremo - Cap. 207
Capítulo 207: Bem na hora (2)
De repente, todos os amuletos de comunicação, que supostamente deveriam estar offline, projetaram a imagem do Diretor Linjos, repetindo a mesma mensagem de novo e de novo.
— Para todos os estudantes, estamos sendo atacados. Voltem para suas casas imediatamente. Se isso não for possível, busquem abrigo no local mais próximo. Para todos os estudantes…
Enquanto os outros ainda estavam olhando fixamente para o holograma do Diretor, Lith agarrou a mão da Phloria e correu para a saída.
— Espera, ainda tem pessoas na mina! — Phloria soltou, tentando acompanhar o ritmo dele.
— E daí? Você acha mesmo que podemos proteger todo mundo? Se eles são estúpidos o bastante para ficarem paralisados de medo, não durariam muito de qualquer forma! — Phloria estava prestes a responder, mas enquanto apertava os dedos do Lith, ela se lembrou que não queria morrer.
Assim que saíram da mina, a cena na frente deles parecia ter saído de um filme pós-apocalíptico. Pessoas estavam gritando e correndo, pisoteando todos aqueles que caíram no chão ou se moviam devagar demais, atrapalhando a fuga deles.
A cidade inteira estava envelopada por uma barreira esférica dourada que agora estava visível ao olho nu. A entrada da mina era um túnel amplo que se abria no chão perto dos arredores da vila, então ela estava coberta pela formação mágica.
O sol ainda estava visível acima do horizonte, mas ainda assim coisas pretas estavam inundando o acampamento, atacando de todas as direções. Seus corpos estavam nus, lembrando uma figura humana apenas porque tinham braços e pernas.
Elas não tinham nenhuma característica facial, pelos no corpo ou órgãos reprodutores, se movendo usando os quatro membros, com movimentos parecidos com os de um inseto. Alguns ficaram perto da mina, emboscando aqueles que estavam saindo dela.
Alguns mortos-vivos pularam na direção do Lith e da Phloria, emitindo um som sussurrante.
— Fique atrás de m… — Lith tentou dizer.
— Fique atrás de mim! — Phloria cortou ele, puxando ele pra trás e batendo o escudo torre conjurado por ela na cara da primeira criatura. A aura azul do feitiço Guarda Total já estava saindo de todo o corpo dela, permitindo que Phloria sentisse cada movimento ao seu redor, sem deixar nenhum ponto cego.
Após passar tanto tempo com o Lith e o pai dela, ela havia aprendido a sempre esperar o pior. Apesar da fuga em uma velocidade de quebrar o pescoço, ela tinha conseguido conjurar todos os melhores feitiços dela, só pra garantir.
A estoc dela acabou rapidamente com a segunda criatura. As gemas na empunhadura emitiram uma luz brilhante enquanto liberavam seu poder, permitindo que a lâmina cortasse através da pele dura como pedra dos mortos-vivos como se ela fosse papel.
Como pode uma garota que sempre está com tanto medo de morrer investir pra cima desse jeito? Lith pensou.
Provavelmente foi porque ela tem alguém importante para proteger. Solus destacou. Há algo de errado com nossos agressores. Os movimentos deles estão desengonçados e previsíveis. Longe do que Orion descreveu para nós.
Lith também não ficou parado. Seus olhos estavam checando os arredores enquanto estudava as criaturas e as lâminas do Orion ao mesmo tempo.
Não havia mais nenhum morto-vivo indo atrás do casal, mas Lith não deixou de perceber como todos eles tinham algum tipo de cordas místicas enroladas em seus membros, limitando seus movimentos.
— A primeira barreira está enfraquecendo eles! Vamos! — Phloria estava prestes a se mover quando Lith a puxou para trás.
— Cuidado! — Várias Flechas de Praga, o feitiço de magia das trevas mais rápido do Lith, atingiram os dois mortos-vivos que agora estavam no chão.
Foi apenas então que Phloria percebeu que cada pedaço dos mortos-vivos, não importa o tamanho, estava exalando tentáculos pretos que permitiam que eles se reconectassem ao resto do corpo, tornando inútil todo o dano que ela havia infligido neles.
Mesmo com seus membros e cabeças conectados apenas pelos tentáculos, as criaturas já estavam de volta para sua melhor condição. Elas estavam simplesmente esperando para emboscar sua presa.
As trevas contidas nas flechas lutaram contra as trevas que estavam reanimando os cadáveres, fazendo os sussurros deles se transformarem em um som estridente.
Lith mal fingiu recitar um feitiço e formar sinais de mãos antes de rapidamente descarregar uma barragem de Flechas de Praga nas criaturas que ainda estavam se contorcendo.
— Nunca abaixe sua guarda até que o inimigo seja reduzido a pó. Nunca! — Lith tirou a shotel que Orion havia confiado a ele de sua dimensão de bolso.
Os gritos de morte dos mortos-vivos tinham feito com que as outras criaturas parassem seus ataques, sibilando com ódio ao verem os dois fugindo. Elas se moveram para interceptá-los, apenas para serem cortados como trigo maduro.
Os movimentos da Phloria eram pequenos e precisos. Anos de prática permitiram que a habilidade dela com a espada fosse livre de forma, como a água. A forma dela mudava incansavelmente de acordo com a situação, trocando de um combate de curto alcance com porradas do escudo para estocadas rápidas para explorar a vantagem de alcance que a espada dava para ela.
Com cada golpe, ela liberava um pulso de magia das trevas que era tremendamente amplificado pela magia da lâmina, fazendo com que as pequenas feridas de perfurações se transformassem em grandes buracos. A energia remanescente comia a carne ao redor, encurtando o tempo de vida das criaturas e desacelerando a regeneração delas.
As técnicas de combate do Lith eram toscas e amadoras. Ele conhecia apenas algumas técnicas que havia aprendido na Terra junto com o básico que a Phloria havia ensinado para ele alguns meses atrás. Ainda assim, ele se movia como uma tempestade.
Para o olho treinado, os movimentos dele eram amplos demais, com muitos movimentos desnecessários, tornando eles telegrafados. Mas os mortos-vivos não eram especialistas. Tendo vidas curtas como as de borboletas, eles dependiam de sua capacidade física superior para dominar o oponente.
Graças à formação mágica restringindo os movimentos deles, Lith já estava mais rápido e mais forte que eles em seu estado natural. Assim que ele se infundiu com magia de fusão, as criaturas mal conseguiam seguir os movimentos dele.
Uma camada grossa de magia das trevas engoliu a shotel dele e ficou apenas mais forte com cada golpe. Solus havia se vinculado à lâmina, ficando de olho no pseudonúcleo dela, prevenindo que as gemas de controle da espada sobrecarregassem com a quantidade massiva de mana que Lith estava despejando nelas.
Cada criatura que impedia seu caminho recebia pelo menos dez cortes, os corpos delas se transformavam em cinzas antes delas sequer conseguirem perceber que tinham sido atingidas.
Phoria estava ocupada demais cuidando da parte dela de mortos-vivos para prestar muita atenção nele, dando apenas uma olhada ocasional para se certificar de que Lith estava bem. A técnica dele era uma bagunça, mas os resultados sempre deixavam ela impressionada.
Se o inimigo se aproximasse, a espada destruía eles em um piscar de olhos. Se eles recuassem, flechas de magia das trevas mandavam eles para o chão, esperneando de agonia.
Como diabos ele consegue conjurar tão rápido mesmo enquanto segura uma espada? Os anéis de armazenamento de magia dele já deveriam estar depletados. A confusão dela não fez Phloria perder o foco. Mais e mais criaturas estavam saindo da floresta, fechando qualquer espaço no cerco que estava se formando.
— Eles não acabam! — Ela mal teve o tempo para gritar que o inferno estava caindo sobre eles.
O Professor Ironhelm apareceu montado no M’Rook, o Ry, seguido por um grupo de feras mágicas. Ele estava portando uma espada e um escudo, mas com o Ry o protegendo, ele podia focar no ataque, dizimando dezenas de mortos-vivos em uma questão de segundos.
— Fujam, crianças! Não olhem para trás! Eu cuidarei dos sobreviventes.
Lith disparou para frente, guardando a espada de volta na dimensão de bolso e pegando a mão da Phloria para ter certeza de que não a perderia no meio do caos. Quanto mais perto eles chegavam da cidade, mais feras mágicas eles encontravam.
Depois de um certo ponto, as amarras nos mortos-vivos causadas pela formação mágica ficavam tão fortes que os mortos-vivos ficavam mais lentos até do que um humano médio, tornando brincadeira de criança para tanto os Professores quanto as feras transformarem eles em picadinho.
Phloria se arrependeu de ter deixado seus colegas estudantes para trás, mas Lith não permitiu que ela desacelerasse nem por um segundo. Eles chegaram na casa deles, parando apenas para abrir a porta e correram para dentro assim que a tranca mágica os reconheceu.
Mesmo sob efeito do surto de adrenalina, eles não conseguiram evitar olhar para seus novos arredores. O interior era muito maior que o exterior. O corredor onde eles estavam tinha no mínimo 100 metros de comprimento e 5 de largura.
Era uma obra prima da magia dimensional, esticando o espaço o suficiente para transformar o pequeno chalé em um único andar de um hotel. Cada lado do corredor tinha dez portas, levando para vários apartamentos. A mobília era rústica. Fora um longo carpete no chão e pedras mágicas para iluminá-lo, o corredor estava vazio.
Eles não podiam se importar menos com isso e começaram a procurar pelos crachás com os nomes deles nas portas. Eles teriam sido mais rápidos se tivessem checado um lado do corredor cada um, mas as mãos deles pareciam estar grudadas.
O quarto deles era quase uma réplica dos quartos onde eles moravam na academia, só que 5 vezes maior. A mobília consistia de cinco camas com o mesmo número de mesas de cabeceira e guarda-roupas. Mas havia apenas dois banheiros. Um para as garotas e outro para os garotos.
— Por que demoraram tanto? — perguntou Friya a eles, com uma expressão cansada em sua face.
Uma sensação insuportável de culpa agarrou o estômago da Phloria. Ela havia se esquecido completamente de que sua irmã estava com eles na mina. Ela abraçou Friya com tanta força que exprimiu para fora o ar dos pulmões dela.
— Desculpa, mana. Eu não queria ter te deixado pra trás! Estou tão feliz que você está bem. Por favor, me perdoe — disse Phloria enquanto chorava, deixando Friya atônita.
Lith em vez disso ficou impressionado com o fato de que ela ainda estava sem um único arranhão, assim como eles, mas tinha conseguido chegar mais rápido que eles na casa sem nem mesmo derramar um pingo de suor. Até ele ainda estava arfando por causa da corrida insana.
— Do que você está falando? Deixe para chorar mais tarde, Quylla e Yurial precisam da nossa ajuda.
Ela apontou para os dois jovens, deitados em suas camas. Os uniformes deles estavam rasgados em vários lugares, mostrando os sinais de uma batalha que havia sido perdida. A pele deles estava mortalmente pálida, a respiração deles estava curta e rasa.
— Esses idiotas na verdade correram para chegar na casa e quase foram mortos. Eles deviam ter Blinkado, igual a gente! — Com aquelas palavras, Lith e Phloria ficaram vermelhos como beterrabas de vergonha. No calor do momento, eles tinham se esquecido completamente do feitiço, dependendo por instinto de métodos muito mais rústicos para escapar.
— Eu já fechei as feridas deles, mas não consigo dar mais nenhuma força vital sem me colocar em perigo. Eles precisam da sua ajuda, Lith.
Lith assentiu, recitando o feitiço e usando Revigorar ao mesmo tempo para checar a condição dos companheiros deles. A situação estava mais feia do que Friya acreditava. A força vital deles não apenas estava desaparecendo, mas também algum tipo de toxina estava atacando os núcleos de mana deles.
Lith ficou chocado com a descoberta, o deus da morte supostamente era um mago falso. Ele neutralizou a toxina, extraindo-a dos corpos deles antes de injetar parte de sua força vital. A respiração deles imediatamente ficou regular, o aspecto ficou saudável.
Friya estava prestes a perguntar sobre o líquido flutuando sobre a mão do Lith quando alguém bateu na porta.
— Tem alguém ferido aqui? Sou o Professor Vastor, deixem-me entrar, por favor.
O Professor Vastor ainda estava tão redondo e careca quanto um ovo, seus bigodes encerados ainda estavam perfeitos apesar do suor escorrendo de sua cabeça.
— Oh deuses, minhas preciosas estrelas não! — Ele foi correndo para as camas assim que reconheceu seus estudantes. Apenas após performar um check-up completo, Vastor suspirou de alívio, se sentando em uma cama para recuperar o fôlego.
— Ótimo trabalho removendo as toxinas, pessoal. A maioria das pessoas deixaria ela passar despercebida até que fosse tarde demais. Aqueles malditos mortos-vivos bizarros. Apenas um louco criaria tais criaturas. Perigosas e gastam demais. — Os comentários dele os deixaram sem palavras, mas apenas por um segundo.
— Quem liga para a eficiência deles! — gritou Phloria. — A Quylla e o Yurial vão ficar bem?
— O que diabos aconteceu? — Friya se juntou à briga. — Não era para o ataque acontecer apenas durante o aniversário?
— Posso ficar com a toxina? — Lith entrou na conversa, guardando metade da toxina em sua dimensão de bolso, só pra garantir. — Eu a usarei apenas para propósitos de pesquisa. Prometo.
Eu queria ter um corpo pra dar uma porrada na sua cabeça agora. Solus deu uma bronca nele.
As garotas o encararam, claramente compartilhando da indignação da Solus.
Vastor riu alto, dissolvendo a tensão.
— Sim, é claro que eles estão bem. Caso contrário, eu não estaria tão calmo. Quanto às suas outras perguntas, tenho apenas má notícias. Primeiro, sempre que o deus da morte muda seu alvo, ele lança ataques para obter informações antes do aniversário. Considere a invasão de hoje como um ensaio. Caso contrário, não teríamos nos mudado de antemão para um lugar tão longe. Me pergunto como ele conseguiu nos encontrar tão rápido.
— Aquilo foi só pra obter informações? — Phloria sentiu uma fraqueza nos joelhos.
Vastor assentiu.
— Bem, sim. Aquelas criaturas dificilmente são mortos-vivos superiores. Nenhum poder mágico, inteligência limitada, nenhuma estratégia. Elas simplesmente infestaram o acampamento para testar nossas defesas e tempo de reação. E quanto ao seu pedido, senhor Lith, minha resposta é um não. Cem pontos por extrair a toxina em um estado tão inalterado. Os alquimistas ficarão muito felizes quando a verem.
Os olhos do Vastor brilharam como uma criança desembrulhando seu presente de natal enquanto ele guardava a toxina em um recipiente alquímico.
— Foi um esforço em grupo — disse Lith, torcendo para isso arrefecer a raiva das três garotas.
Boa tentativa, seu mesquinho. A mim você não engana. Solus ainda estava brava.
— Então, cem pontos para cada um de vocês — disse Vastor, feliz demais para sequer se incomodar de se lembrar que a Phloria não fazia parte da especialização de Curandeiro.
Phloria e Friya sorriram, acompanhando o Professor para a porta. Pontos sempre eram bem-vindos.
Duas de três ainda é um bom resultado. Lith pensou.
— Babaca! — disseram elas para o LIth em uníssono assim que a porta foi fechada.
— Garotas, os quartos não são à prova de som por questões de segurança. Esperem eu ir embora antes de baterem nele — gritou Vastor.
Ou não.